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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A dificuldade em aceitar que fiz uma cesárea.

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Esse é um tema que vem alimentando boa parte da depressão que venho sentindo. Quanto mais eu leio, mais eu lamento. Sim, eu sei, eu vivo no passado as vezes.

Foi necessário fazer uma cesárea? Foi.
Teria como eu ter feito um parto normal? Talvez, mas Cauã estava sentado, eu estava sangrando, tendo contrações, com dilatação zero, útero bicorno... Tive medo.

Sei que o bebê pode virar até no momento do parto, mas eu tive medo. Medo demais de acontecer algo a ele. Medo de esperar. 

E fui submetida a cesárea. Fiquei frustrada. Mesmo muitos falando que eu não era capaz, que eu não aguentaria, eu acreditei até o final que eu seria sim capaz de ter um parto normal e que ele iria virar. Isso era importante para mim.
Eu ainda acredito que a cesárea salvou a minha vida e a do Cauã, e agradeço a Deus por ter colocado um médico/anjo tão maravilhoso e humano no meu caminho, que ouvia o que eu queria, que se preocupava.

Mas na verdade, o que mais me dói não foi ter tido o Cauã por meio de uma cesárea. O que mais me dói é não ter vivido nada do que eu li tanto durante toda a gestação. O que me dói foi ter sofrido tanto.

  • Fui amarrada. O que eu sou e sempre fui contra. O que eu já vi e li que muitos hospitais não fazem mais.
  • O levaram logo que nasceu. Não o vi logo que nasceu. Por ter nascido prematuro, perguntei inúmeras vezes se estava tudo bem, mas não recebi resposta. Trouxeram minutos depois, estava tudo bem, graças a Deus, não ia precisar de UTI.
  • Não mamou na primeira hora de vida, e o hospital, com toda a sua cara de pau, teve coragem de marcar na caderneta de vacina dele que 'Sim, ele mamou na primeira hora de vida.' E não, ele não mamou. Ele foi logo levado para o berçário e do berçário pro quarto.
  • Cauã nasceu às 10:22 e eu só o vi as 14:30. Eu só o toquei às 16h, pois o hospital me impediu de tocá-lo. Disse que eu só poderia assim que a pessoa que auxilia na amamentação chegasse. E ela só chegou no quarto 1 hora e meia depois de eu estar lá frente a frente com ele, mas sem nem poder pegá-lo.
  • Mas antes de eu chegar no quarto que começou meu pesadelo pior.
  • Fiquei horas deitada na sala de cirurgia, pois não havia maca para me levar para a sala de recuperação. Nisso a anestesia começou a passar, eu comecei a sentir uma dor, que eu juro a todos vocês, eu nunca senti tanta. Mas o pior não foi sentir dor, o pior foi pedir, por favor, ajuda, muitas vezes, a muitos enfermeiros, e ser completamente ignorada. Apenas uma se importou (temporariamente), ela disse a outro enfermeiro que eu estava questionando de dor e pasmem, esse outro chegou perto de mim e perguntou "Mas está sentindo dor mesmo? Ou é só um pouco?". Eu disse que sim, eu estava sentindo dor demais. E o que aconteceu? Ele nada fez. A enfermeira que falou com ele voltou para a sala de cirurgia que eu me encontrava e nada fez também. Apenas sentou e ficou me observando. 
  • Comecei a tremer devido a anestesia, o que é algo normal, mas eu estava sentindo dor demais, e a tremedeira a qual eu não conseguia controlar estava fazendo doer muito mais. Eu falei outras vezes sobre minha dor, mas não me deram atenção.
  • Assim que saí da sala de cirurgia, pois uma maca foi liberada, fui encaminhada para a sala de recuperação. Nesse momento eu já estava pedindo a Deus para partir, pois a dor era imensa, era tamanha, que eu não conseguia pensar tão bem como antes. Chegado na sala de recuperação, falei que estava sentindo dor e finalmente disseram que 'Iam ver o que podiam fazer. Se tinha algum remédio para mim'. E tinha. Vieram com um vidrinho bem pequeno. Foi colocado o remédio na minha veia, eu esperei, mas eu não senti diferença alguma com o passar do tempo. Pelo contrário, a dor só aumentava, e nesse estado de forma mais rápida. Eu pedi novamente a enfermeira ajuda, e ela chegou até mim e com grosseria disse 'O remédio era aquele! Eu já te dei!'. Pesadelo. Dor. Medo. Vontade de ver o Cauã. Demora. Era tudo o que passava pela minha cabeça.
  • Havia eu e mais algumas meninas no quarto, não lembro quantas, eu não conseguia pensar mesmo muito bem. A cada hora que entrava alguém e lia o nome da menina que subiria pro quarto, era uma esperança, uma força. Mas todas saíram e eu fiquei por último. O que me diziam é que o meu quarto estava sendo preparado para mim. Duvido. Meus familiares já estavam no quarto com o meu filho a horas e o quarto estava do mesmo jeito de quando eles entraram.
  • Não sei quantas vezes reclamei de dor. Quando chamaram meu nome e me trocaram de maca, me pararam no corredor e saíram. Fiquei minutos parada, sozinha, no corredor. Sem uma explicação, sem nem entender o porque. Quando chegaram, eu reclamei que estava doendo muito, e fui completamente ignorada pelos dois enfermeiros que estavam me levando na maca. Completamente. Nem se deram ao trabalho de falar "Calma, já estamos indo". "Calma, vai passar". Nada. Olharam pra mim e voltaram o olhar pra frente. Mudos.
  • Quando cheguei no meu andar, assim que saí do elevador, uma familiar do meu marido veio me cumprimentar. Pra vocês terem uma idéia, até hoje eu não sei quem foi que falou comigo e o que ela falou comigo. Eu estava sentindo dor demais! Eu só queria que aquilo parasse!!! E ninguém me dava atenção! Foi eu chegar no quarto, ver minha mãe, ver meu pai e o Cauã, que eu desabei. Chorei, e chorei muito. Falei que não aguentava tanta dor. Minha mãe se preocupou, meu pai. Todos. Eu chorava muito. Doía muito. 
  • Minha mãe questionou a enfermeira, me deram remédio, e depois a dor amenizou.
  • Houveram outros episódios depois. Enfermeira grossa comigo, pois eu estava sentindo dor e queria levantar devagar para tomar banho, e ela queria me forçar a levantar rápido. Me segurando pra me puxar e levantar, sem respeitar meu tempo; Grosseria com minha mãe; Grosseria com minha cunhada... Entre outras coisas.
Os dias que passei naquela maternidade foi um pesadelo pra mim. Saí do hospital jurando nunca mais ter filho. Tive, por mais de um mês, pesadelos constantes durante todas as noites com cesárea. Não pude cuidar do meu filho na primeira semana por tanta dor. Meu marido fez tudo. Eu só amamentei. E, pra melhorar, ainda tive aquela dor de cabeça devido a anestesia, que nem todas as mulheres tem, e tive que ir para o hospital tomar remédio na veia por mais de duas horas. Horas essas que tive que ficar afastada do meu filho pelo risco que tem um recém-nascido de ficar dentro de um hospital.
Foi barra.
Hoje, faltando 1 semana para o mesversário de 5 meses do meu filho, ainda tenho pesadelos. Não todos os dias, como no primeiro mês, mas frequentes. 

Eu juro, e sem exagerar, que nunca senti tanta dor...


Obs: Hospital particular, parto pago à vista.